Leite – O aumento substancial das importações de leite continua impactando de forma negativa a cotação do leite no campo. Em agosto, o preço pago aos pecuaristas pela produção entregue em julho caiu 4,72% na média de Minas Gerais. O litro de leite entregue em julho foi cotado, em média, a R$ 2,50.
O valor pago atualmente está bem inferior se comparado com o mesmo período de 2022, quando a cotação estava em torno de R$ 3,60, representando, assim, uma retração de 30,5%. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
A queda nos preços do leite entregue em julho foi a quinta consecutiva no Estado. Com isso, a situação dos produtores se complica ainda mais.
O cenário é bastante crítico no momento. Estamos saindo do período de inverno – que seria de alta dos preços – em baixa. Vamos entrar na primavera, que é época de safra, já com um movimento de queda. Essa retração de preços no inverno é causada pela importação desenfreada do leite argentino e uruguaio. O que tem provocado uma grande depressão no preço do leite”, explicou o presidente da Comissão Técnica da Pecuária de Leite do Sistema Faemg/SENAR, Jonadan Ma.
Ma destacou ainda que o leite importado chega mais barato ao mercado nacional, o que estimula a importação. Isso acontece devido ao custo Brasil muito mais elevado que na Argentina e no Uruguai.
O preço do leite está caindo desde abril. O valor vem baixando mês a mês. Então, o produtor não vai conseguir, neste ano, reconstituir o caixa, ter capacidade de investimentos e muitos não estão conseguindo se manter na atividade”.
Conforme Ma, a consequência é a queda de produção. “A tendência é reduzir, ainda mais, a produção. Em Minas, de abril a junho, a queda no volume produzido de leite ficou em 3,1%. É muito leite a menos. Exatamente pela desmotivação e falta de condições de continuar na atividade e produzindo com investimentos”.
Assim como em Minas, a retração também foi registrada na média Brasil. Os dados do Cepea mostram que o preço do leite cru captado pelos laticínios em julho registrou a terceira queda consecutiva no pagamento de agosto.
Queda também em nível nacional
O valor médio registrado chegou a R$ 2,41 por litro na média brasileira líquida do leite entregue em julho, gerando um recuo de 5,69% frente ao pago em junho.
Ainda na média Brasil, quando comparado com igual mês de 2022, a queda foi ainda mais expressiva e chegou a 35% em termos reais.
A pesquisadora do Cepea, Natália Grigol, destaca que é importante lembrar que esse movimento de desvalorização do leite, nesta época, é algo atípico para o setor.
Isso porque, historicamente, o que se observa é alta dos preços, em decorrência da entressafra, uma vez que a produção não é estimulada pelo clima neste período. Sem chuvas, há comprometimento das pastagens.
Contudo, em 2023, as cotações seguem se comportando de maneira atípica, diante do consumo enfraquecido, do aumento de importações e da queda nos custos de produção. Esses fatores, combinados, têm engendrado o movimento de queda em toda a cadeia produtiva”.
As importações de leite têm impactado de forma significativa na formação dos preços internos no campo. Conforme o levantamento do Cepea, o aumento das importações neste ano é um fator que tem elevado a disponibilidade interna de lácteos e pressionado as cotações na cadeia.
Ainda que os dados da SECEX mostrem que, em julho, as importações caíram 12% em relação a junho, o montante internalizado somou mais de 185 milhões de litros em equivalente leite, expressivos 71% acima do volume importado no mesmo período do ano passado. Os preços mais competitivos dos lácteos importados em relação aos produtos nacionais seguem viabilizando as importações”, explicou a pesquisadora Natália Grigol.
Custos do leite
Ainda segundo o levantamento do Cepea, os custos de produção do leite seguem em queda. O Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira caiu 0,41% em julho na “Média Brasil”, influenciado sobretudo pela desvalorização do concentrado, dos adubos e corretivos.
Nos primeiros sete meses do ano, os custos da atividade acumularam baixa de 6,15%, incentivando investimentos na produção, o que tem feito a oferta de leite se recuperar mesmo na entressafra.
Os dados da Embrapa Gado de Leite mostram que os custos também ficaram menores em Minas Gerais. Conforme os dados do Índice de Custo de Produção de Leite da Embrapa, que mede a variação mensal do custo de produção de leite em propriedades mineiras, o custo teve queda de 0,2% em agosto. No ano, a queda é de 4,5%.
Segundo os pesquisadores da Embrapa, a queda mensal foi causada, principalmente, pelo recuo dos preços da ração comercial (mistura pronta) e da maioria dos itens para a produção de alimento concentrado, como o milho e outros, que têm maior participação no custo de produção total. Assim, o grupo de concentrado apresentou queda de 0,6%. Também foi vista redução nos custos dos grupos de qualidade do leite, 3,2%, e minerais, 0,1%.
Fonte: Diário do Comércio