Os levantamentos realizados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) mostram que o ano de 2023 começa de forma atípica para o setor lácteo nacional, sendo marcado por altas de preços ao longo de toda cadeia produtiva.
A pesquisadora do Cepea, Natália Grigol, observa que historicamente há uma desvalorização do leite no início do ano, por conta do aumento sazonal da produção – o qual, por sua vez, está atrelado à melhoria das pastagens, em decorrência de típicas chuvas da primavera e do verão.
Contudo, diz ela, neste início de 2023, “verifica-se justamente o oposto: limitação da produção, em consequência do clima adverso, resultado do fenômeno La Niña. No Sul, o avanço da entressafra, que seria normal nesta época do ano, foi intensificado, devido à forte estiagem na região, que reduziu a captação para além do esperado. Ao mesmo tempo, no Sudeste e Centro-Oeste, que, sazonalmente, estariam passando pelo pico da safra, o excesso de chuvas tem prejudicado a produção”.
O Índice de Captação Leiteira do Cepea (ICAP-L) recuou 0,15% de novembro para dezembro na Média Brasil. Nos estados do Sul, houve retração média de 2%, ao passo que, nos estados do Sudeste e Centro-Oeste, a alta foi de apenas 1%. A pesquisadora salienta que, além da questão climática, é importante destacar que o estreitamento das margens dos produtores também tem reforçado a diminuição dos investimentos no campo.
“Pesquisas do Cepea mostram que o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira subiu 0,68% em janeiro. Com a receita em queda desde agosto e os preços firmes dos insumos – especialmente da ração –, o poder de compra do pecuarista tem diminuído, dificultando um incremento ou até mesmo a manutenção da oferta”, diz.
Os agentes de mercado consultados pelo Cepea relataram que a concorrência por fornecedores voltou a crescer ainda no final do ano passado. “Isso enfraqueceu o movimento de queda nos preços ao produtor e, na Média Brasil líquida do Cepea, o leite captado em dezembro fechou em R$ 2,52/litro, recuo de apenas 0,8% em relação ao mês anterior, em termos reais”, diz a pesquisadora.
Segundo a pesquisadora, devido à produção limitada no campo, a média mensal do leite spot em Minas Gerais vem subindo desde a segunda quinzena de dezembro e registra alta de 22,4% na média de janeiro, quando chegou a R$ 2,81/litro, segundo pesquisa do Cepea (os valores foram deflacionados pelo IPCA de janeiro/23). “A valorização da matéria-prima resultou em aumento nos preços dos lácteos em janeiro.”
A pesquisa do Cepea, realizada com o apoio da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), mostrou que, em janeiro, o preço médio do UHT subiu 4,2%; o da muçarela 3,3%; e o do leite em pó 1%. “Assim, a expectativa é de que os preços ao produtor possam registrar altas em janeiro, numa movimentação considerada precoce pelo setor, mas que se justifica pela diminuição da produção e pelo aumento da concorrência dos laticínios por fornecedores.”
A pesquisadora considera importante observar que a oferta interna limitada e o aumento dos preços ao longo de toda cadeia estimularam o aumento de 2,8% nas importações e a queda de 30,1% nas exportações de lácteos em janeiro. “As compras externas, que vinham em queda desde outubro, chegaram a 156,9 milhões de litros em equivalente leite, sendo 2,3 vezes maior que o internalizado no mesmo período do ano passado.”
Fonte: Globo Rural / Venilson Ferreira