Decreto para modernização dos laticínios completa um ano

O fim dos registros do Programa de Autocontrole (PAC) em papel impresso é uma realidade. Mas, um ano depois, o PAC digital ainda não faz parte do dia a dia da maioria dos laticínios brasileiros  

Uma auditoria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) realizada apenas com tablets, smartphones ou laptops. No lugar de pilhas e pilhas de papéis, apenas dispositivos digitais. Todas as informações e registros disponíveis ao simples toque de uma tela ou clique. Até um ano atrás, parecia um cenário futurista, algo muito distante da realidade. No entanto, aquele futuro, hoje, é o presente.  

Há um ano, os procedimentos que envolvem as obrigações do Programa de Autocontrole (PAC) da indústria láctea ficaram mais ágeis. Essa facilitação foi possível graças à atualização do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal (Riispoa), do Mapa. A publicação foi oficializada pelo Decreto nº 10.468, de 18 de agosto de 2020. Com isso, os laticínios passaram a contar com o recurso de substituir os volumosos controles e planilhas em papel, utilizados até então, por um sistema digital – na forma de aplicativo – que garante a segurança e a integridade das informações.   

Apesar da simplificação que o aplicativo trouxe, as exigências do PAC não mudaram em nada. O que mudou foi a forma como tudo é coletado, registrado, monitorado e acessado. O objetivo continua sendo a adequação do sistema de gestão de qualidade e segurança dos produtos de origem animal. E o leite está entre os seis produtos mais importantes da agropecuária brasileira. Daí a necessidade de um modelo eficiente de inspeção sanitária, baseada em controle de processos.  

Os últimos dados da Pesquisa Trimestral do Leite/IBGE, referentes à produção inspecionada em 2020, mostraram recorde histórico de 25,53 bilhões de litros de leite produzidos no país. Para isso, foram necessárias inspeções contínuas, sistemáticas e com base no risco de todos os fatores que, de alguma forma, podem interferir na qualidade do leite que a população consome. Essas inspeções, além da grande quantidade de tempo, também consomem muita energia dos colaboradores, por envolverem múltiplas etapas e a exigência de um alto nível de precisão, com frequentes registros e inspeções das diferentes etapas do processo.   

Contudo, a nova regulamentação trouxe esse quadro para o século 21 e, com ele, várias possibilidades de benefícios para a rotina dos laticinistas. Mesmo assim, um ano depois da relevante conquista, a maioria dos laticínios do país ainda trabalha com o modo antigo do PAC. Apesar de benéfica, a iniciativa de modernizar o PAC ainda se mostra, sob alguns aspectos, incompatível com a realidade de muitos laticínios no Brasil.  

A resistência à mudança é um dos principais motivos que ainda mantém as empresas no modelo antigo de autocontrole. Existe um caminho a ser percorrido até que o PAC digital seja, de fato, adotado pela maioria dos laticínios do Brasil. “O uso de pranchetas, papéis, canetas e máquinas fotográficas atravanca o processo, dificulta a consulta e exige disponibilidade de espaço físico para o armazenamento”, aponta Leonardo Inácio, CEO da Lacteus Gestão para Laticínios. “A grande vantagem do aplicativo está na facilidade de organização e acesso aos dados. Tudo é registrado digitalmente.”  

A Lacteus, especializada em gestão para laticínios, lançou seu aplicativo de Autocontrole no final do ano passado. “Nosso grande desafio foi tornar o sistema totalmente maleável às particularidades do PAC em cada laticínio”, explica Leonardo. “Para isso, criamos uma espécie de engrenagem de dados flexíveis que nos permite atender qualquer cliente, independentemente do seu tamanho, pois o PAC do cliente, quem quer que ele seja, vai ser refletido dentro do aplicativo.”  

Apesar da atual acomodação dos laticínios em relação à digitalização do autocontrole, Leonardo se mostra otimista. O comprometimento da Lacteus no desenvolvimento do seu PAC digital foi, como ele ressaltou, um desafio para a equipe. “Como o processo é flexível, tivemos que criar alguns parâmetros para aproveitar toda a base de dados já existentes dos nossos clientes, como cadastro de produtores, de propriedades rurais, de colaboradores e outros.”  

Além de validar os esforços da área de inovação e segurança de alimentos, a digitalização do sistema proporciona ao consumidor um alto nível de transparência na qualidade do leite, consequência do funcionamento eficiente do autocontrole digital. “As alterações para o PAC digital representam um salto qualitativo na captação e no registro dos dados”, reitera Leonardo. “Isso se reflete, de forma expressa, tanto no trabalho do supervisor quanto nas práticas produtivas do laticínio.”  

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