Inundação agrava crise leiteira no RS

Produção vem caindo com abandono da atividade por causa da alta nos custos

As enchentes acentuaram os problemas que já têm feito encolher o número de famílias que se dedicam à produção de leite no Rio Grande do Sul. Nos últimos anos, os baixos preços – consequência, em parte, do crescimento das importações de lácteos -, o aumento dos custos de produção e as secas registradas levaram milhares de criadores de gado de leite a abandonar a atividade. Os prejuízos com as inundações devem ser o ponto final da atuação de muitos produtores que continuavam no segmento.

“O gaúcho está parando a galope de produzir leite. São três anos seguidos de dificuldade com o clima. O produtor já estava sem lucro, desanimado, depressivo. Com essa tragédia, vamos ter que reconstruir a parte financeira e também a parte psicológica dos produtores”, afirma Marcos Tang, presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando).

No município de Rolante (120 km de Porto Alegre), as chuvas destruíram as pastagens de Neila Avila. Ela produz leite há 12 anos, mas, com as perdas recentes, diz que pensa em desistir. “Já chorei tudo que tinha para chorar. Agora, eu e meu marido só pensamos em conseguir comprador para as vacas e mudar de atividade”, afirma.

Na propriedade, o volume de captação de leite caiu praticamente pela metade por causa das chuvas: foram 360 litros por dia na primeira semana de maio, contra 700 litros uma semana antes. As águas destruíram completamente o pasto e levaram quase todo o estoque de silagem da família, que precisou jogar fora pelo menos mil litros de leite.

A pecuária leiteira no país tem sofrido aperto de margens por aumento de custos. O quadro é particularmente grave no Rio Grande do Sul, que, antes das chuvas de 2024, enfrentou severa estiagem por três anos seguidos. Em 2015, segundo a Associação Riograndense Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS), 84 mil propriedades rurais destinavam leite à industrialização no Estado. Em 2023, eram apenas 33 mil. No intervalo, o número de vacas leiteiras no Estado diminuiu 34%, para 770 mil animais, e a produção anual de leite caiu quase 9%, para 3,8 bilhões de litros.

Segundo a Emater-RS, os criadores gaúchos de gado leiteiro perderam 2.451 cabeças. Muitos sofreram danos em infraestrutura essencial para a produção, como galpões, ordenhadeiras, tanques e as próprias pastagens. Para se reerguer da calamidade, o segmento busca uma série de medidas de socorro. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) confirmou algumas ações, como liberação de crédito para o financiamento de máquinas e equipamentos, projetos de investimento e reconstrução e capital de giro, assim como o refinanciamento de prestações que estavam por ser pagas.

O secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), Darlan Palharini, avalia que as políticas de crédito devem amenizar a situação principalmente das indústrias e produtores do vale do Taquari, que respondem por cerca de 10% da produção do Estado.

Fonte: Globo Rural / Foto: Emater-RS / Divulgação

Mais postagens

Envie-nos uma mensagem