O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) apurou que a captação de leite no mês passado superou em 5% a de junho, registrando a quarta alta seguida.
Já os preços reais recuaram para R$ 2,4142 na média nacional, com retração de 5,7% no mês. Em relação aos de há um ano, a queda acumulada é de 35%.
Ruim para o produtor, bom para o consumidor. Nos últimos 12 meses, o preço do leite longa vida diminuiu 22% nos supermercados de São Paulo. Só nos últimos 30 dias, a queda foi de 2,1%.
A retração nos preços do leite cooperou para uma deflação nos preços médios dos alimentos no varejo. Em média, a queda foi de 1,2% nos últimos 30 dias.
A desaceleração dos alimentos, um grupo de peso nos custos dos consumidores, ajudou na deflação de 0,5% para os paulistanos no acumulado das últimas quatro semanas, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
A queda dos preços do leite no campo se deve a vários fatores, segundo analistas do Cepea. O consumo nacional está enfraquecido, o que gera também uma retração na sequência da cadeia do setor.
Os preços internacionais são mais competitivos do que os nacionais e, com isso, as importações têm aumentado fortemente. Embora em ritmo menor no mês passado em relação a junho, as compras externas atingiram 185 milhões de litros equivalentes de leite. O volume foi 12% abaixo do de junho, mas superou em 71% o de igual mês de 2022.
A queda nos preços dos grãos, importantes na composição da ração, reduziu também os custos de produção no setor leiteiro. Custos menores levaram parte do setor a investir mais, o que gera uma oferta maior do produto, segundo o Cepea. De janeiro a julho, a queda nos custos foi de 6%.
Pagando menos no campo, a indústria repassa o produto por valores menores. Nos últimos 12 meses, o leite longa vida caiu 36% no atacado; o leite em pó, 24%, e a muçarela, 36%.
O menor preço pago aos produtores de leite ocorreu na Bahia, onde as negociações se deram, em média, a R$ 2,20 por litro. São Paulo, onde o produto foi comercializado a R$ 2,65, teve os valores mais elevados.
Originalmente publicado na Folha de S. Paulo (30 de agosto de 2023).
Coluna assinada pelo jornalista Mauro Zafalon.