Por Matheus Napolitano
No final do mês de junho, o IBGE divulgou os resultados preliminares do censo populacional de 2022, que trouxe grandes surpresas, devido ao baixo crescimento da população desde 2010. Os resultados evidenciaram que a população brasileira em 2022 era de cerca de 203 milhões de pessoas, com uma taxa de crescimento nos últimos 12 anos de 0,52% por ano.
A estimava do próprio IBGE indicava uma população brasileira em 2022 próxima a 215 milhões de habitantes (ou seja, temos uma significativa diferença de 12 milhões de habitantes em relação ao dado do censo – é muita gente!).
Trazendo esses dados para o setor lácteo, analisamos sobre como se comporta a produção de leite
por habitante nas diferentes regiões do Brasil. Para isso, consideramos os próprios dados preliminares do censo e a produção total de leite medida pela Pesquisa da Pecuária Municipal de 2021 (a última divulgada).
Produção de leite per capita por região
Na média Brasil, com uma população de 203,06 milhões de pessoas, contra uma produção de 35,3 bilhões de litros de leite em 2021, temos uma produção per capita de leite 173,9 litros/pessoa/ano. Entretanto, esse indicador é bastante distinto entre as regiões do país. O Sul, por exemplo, apresenta uma relação produção de leite por habitante maior que o dobro da média Brasil, conforme podemos ver abaixo.
Percebe-se claramente a relevância do Sul na produção de leite no país. A região que atualmente já é a maior produtora absoluta de leite no Brasil, também tem uma produção per capita muito maior do que as demais localidades, o que a caracteriza como a principal “exportadora” de leite para as demais regiões do país.
Por outro lado, a região Nordeste apresenta a menor produção per capita de leite do país, com cerca de 5,55 bilhões de litros produzidos e uma população de 54,65 milhões de pessoas, a região apresenta uma relação de 102 litros/pessoa/ano, mesmo com o crescimento recente da produção de leite na região, como discutimos neste artigo.
Dessa forma, os dados indicam que a região Nordeste tem um grande potencial de expansão da sua produção, por ter capacidade estrutural para isso e, principalmente, em virtude de já ter um grande mercado consumidor.
Olhando os dados por estado, percebe-se o destaque também para o Sul do país, com os 3 estados da região figurando entre os 6 maiores em termos de produção per capita de leite, como mostra o gráfico 2.
Curiosamente, o ranking estadual é liderado pelo estado de Rondônia. Apesar de ser o 10º maior produtor de leite do país, com uma produção em 2021 de cerca de 741 milhões de litros, a sua baixa população de cerca de 1,6 milhão de pessoas (a 5º menor do país) faz com que o estado lidere o ranking de produção per capita de leite.
Minas Gerais vem em seguida. O maior estado produtor em volume absoluto também apresenta uma alta concentração per capita de leite, fazendo com que seja também um importantíssimo fornecedor de lácteos para outros estados. Goiás, na sequência, também mostra sua relevância no leite nacional. O estado que vem passando por significativas transformações na sua base produtiva e apresentou uma redução de cerca de 11% no seu volume de captação formal de leite em 2022 mostra que é um dos mais importantes para o leite brasileiro. Mesmo se considerarmos a redução de 11% da captação formal também para a produção total, o estado ainda apresentaria uma produção per capita de 393 litros/pessoa, o que o mantém entre os maiores do país, sendo um estado exportador de leite para outras regiões.
Por outro lado, 2 dos principais mercados consumidores de lácteos do país, São Paulo e Rio de Janeiro, figuram entre os estados de menor produção de leite per capita do país. São Paulo e Rio de Janeiro, com a 1ª e 3ª maiores populações estaduais do Brasil, respectivamente, se caracterizam como 2 grandes “importadores” de lácteos de outros estados.
Olhando por mesorregião, destacam-se também os estados da região Sul e de Minas Gerais.
Por m, na nossa análise geográfica, chegamos ao nível municipal. Por essa óptica, cidades pouco populosas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina lideram como os municípios de maior densidade de leite por habitante. Guabiju-RS, com uma produção de leite de cerca de 26,75 milhões de litros em 2021 e uma população de 1.417 pessoas, apresenta uma densidade de 18,9 mil litros/pessoa/ano – equivalente a cerca de 52 litros/habitante/dia.
Através desses dados, podemos observar alguns pontos interessantes da geografia do leite brasileiro e seus principais mercados (produtores e consumidores):
O Sul do país, em seus estados, mesorregiões e municípios, destaca-se pela alta concentração de leite por habitante, o que o caracteriza como um importante fornecedores de lácteos para outras regiões do país;
Minas Gerais, apesar de ser a 2ª maior população do Brasil, também apresenta uma alta relação de litros de leite por pessoa, também sendo um fornecedor de lácteos para outros estados. Assim como Goiás, que apesar do recuo recente da produção de leite, segue sendo um dos estados mais importantes para o leite brasileiro;
Os dados para o Nordeste indicam que a região ainda tem um grande espaço de crescimento para sua produção de leite, em virtude de já ter um grande mercado consumidor;
Por outro lado, Rio de Janeiro e São Paulo se caracterizam como principais estados importadores de lácteos. Sem perspectivas de saltos de produção para esses 2 estados no curto prazo, essa posição estrutural deve ser mantida.
(Os dados completos de todo o Brasil, de população, produção de leite e produção/habitante, pode ser consultada no seguinte painel: bit.ly/46Z7F8p).
Fonte: Milk Análises 12/09/2023 – Matheus Napolitano – Milk Monitor
