O crédito de longo prazo do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) foi decisivo para a implantação e desenvolvimento da empresa leiteria idealizada pela empresária Fernanda Bacelar numa propriedade rural em Arapoti, nos Campos Gerais. Ela obteve o financiamento em 2016 dentro do programa Meu Agro é BRDE (com recursos do BNDES, da linha Moderagro), que apoia a modernização e expansão da produtividade nos setores agropecuários. E desde então a produção só aumenta.
A Bacelar Agroleite é considerada uma das melhores em termos de qualidade do leite no Paraná, segundo a Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH). A empresa também conquistou posições de destaque desde a primeira edição do Prêmio Leite de Qualidade – Paraná, organizado pela Capal Cooperativa Agroindustrial, da qual Fernanda é cooperada. Entre 2018 e 2020, a empresa venceu a categoria de 3.001 a 6 mil litros/dia; em 2021, acima de 10 mil litros/dia; e em 2022 ficou na segunda colocação dessa mesma categoria.
O pontapé inicial do projeto ocorreu em 2015, ano em que a carreira de Fernanda deu uma guinada radical. Ela era gerente de marketing bem estabelecida no mercado de Curitiba, mas aceitou o desafio proposto por seu pai de se tornar produtora de leite em propriedade da família. Fascinada com a ideia, mesmo com pouco conhecimento prévio do setor, Fernanda começou a elaborar o projeto da fazenda Bacelar Agroleite.
Para iniciar a criação de gado leiteiro, a família contou com o financiamento do BRDE para construir dois barracões free stall (sistema em áreas com camas individualizadas, corredores de acesso e pistas de trato), uma sala de ordenha e um bezerreiro. “Com o projeto já desenhado e investimentos projetados, nós fomos buscar um parceiro financeiro que pudesse nos ajudar nessa jornada e que, além de um financiamento com taxa de juros atrativas, tivesse um plano de pagamento no longo prazo”, conta.
Fernanda enfrentou desafios estruturais e culturais como uma mulher à frente do negócio. Porém, sua mentalidade aberta, focada em processos operacionais e abordagem empresarial, como a criação de departamentos específicos e divisão de funções, contribuíram para o sucesso da fazenda. As atividades iniciaram com 60 vacas prenhas. Ao longo dos anos, o rebanho aumentou e em 2023 alcançou aproximadamente 900 animais, sendo 420 em lactação, e uma produção diária média de 16 mil litros de leite.
Novos financiamentos com o BRDE ao longo dos últimos anos viabilizaram a construção de uma área destinada ao pré-parto, bem como espaços específicos para vacas secas e novilhas. “Essas expansões foram essenciais para o crescimento e aprimoramento de nossas instalações, proporcionando condições adequadas de manejo e bem-estar animal em todas as fases de desenvolvimento do rebanho”, afirmou a gestora da fazenda.
De acordo com Fernanda, o fundamental desta parceria foi a concessão de crédito com dois anos de carência. “Esse período foi fundamental para que a gente já tivesse com o tamanho um pouco maior, mais robustez e volume de caixa para honrar esses compromissos financeiros”, afirma.
O tempo foi essencial para a fazenda, já que a atividade leiteira demanda altos investimentos iniciais, como a construção de instalações e aquisição de equipamentos específicos, além da compra do gado. A liquidez vem do volume de leite, e qualquer propriedade iniciante começa gradualmente, como foi o caso da Bacelar Agroleite. Em vez do projeto estimado de dez anos para atingir 400 animais em lactação, a fazenda alcançou esse marco em apenas seis anos, antecipando o payback, que representa o tempo de retorno de investimento do negócio.
“Essa abordagem promissora do BRDE visa aprimorar a produção e beneficiamento de leite no Paraná, contribuindo para o desenvolvimento sustentável dessa importante indústria”, afirma o diretor-financeiro do BRDE, Wilson Bley Lipski.
PRODUÇÃO LEITEIRA – O setor leiteiro é de grande importância para o Paraná, que é o segundo estado com maior produção de leite no Brasil, com 14,4% da produção nacional, atrás apenas de Minas Gerais, conforme dados do IBGE, relativo ao segundo trimestre de 2023. A cadeia de leite gera significativo faturamento e empregabilidade, envolvendo não apenas produtores, mas também prestadores de serviços e fornecedores.
Desde 2019, o BRDE investiu R$ 387,5 milhões na produção e beneficiamento de leite na região Sul. Somente no Paraná, esse investimento totalizou R$ 187,1 milhões. Todos os projetos estão ligados ao menos um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), sendo que os mais recorrentes são o ODS 2, que se refere à segurança alimentar, melhoria da nutrição e promoção da agricultura sustentável, ODS 3 (vida saudável e promoção do bem-estar), e ODS 8 (emprego pleno e trabalho decente e sustentável).
“A análise de projetos feita pelos técnicos do BRDE adere rigorosamente às normas ambientais, exigindo comprovações de regularidade”, afirma a gerente Operacional do BRDE, Carmem Rodrigues Truite. “Outro diferencial é que conseguimos fazer os financiamentos de forma agilizada agregando apoio técnico”.
“Parcerias entre o BRDE e cooperativas como a Capal, juntamente com o apoio do Governo do Paraná, desempenham um papel fundamental no fortalecimento do agronegócio, em especial do setor leiteiro na região, impulsionando o sucesso de produtores e centros de beneficiamento, o que contribui para o desenvolvimento econômico do Estado”, analisa o diretor administrativo do BRDE, João Biral Junior.
LINHAS – Além do Moderagro, utilizada nesse exemplo, o BRDE também opera outras linhas que beneficiam a cadeia de produção do leite com recursos repassados do BNDES, tais como Inovagro, para incorporação de inovações tecnológicas nas propriedades rurais; Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf); Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp); Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária (Prodecoop); e, Finame, para aquisição de máquinas e equipamentos.
Fonte: Sou Agro / Fernanda Toigo