Entrevista: Fabio Scarcelli

Queijo que vem do berço 

Estimado e reconhecido na atividade leiteira brasileira, Fabio Scarcelli se mostra otimista em relação ao mercado queijeiro nacional, apesar da instabilidade causada pela pandemia  

Uma longa e contínua história de dedicação ao setor queijeiro. Assim é possível descrever a trajetória que move Fabio Scarcelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (ABIQ). Nascido em São Paulo, casado, pai de três filhos e seis netos, Scarcelli fez de sua paixão pelo queijo o seu dia a dia, tanto profissional quanto pessoalmente. Convive com a indústria de queijos desde criança, pois seu avô materno já produzia queijos antes do seu nascimento.  

Engenheiro Mecânico Industrial, formado pela Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), foi sócio da Scarcelli & Cia – Laticínios Heloisa por mais de 30 anos, juntamente com o pai e o irmão. Em 1988, foi um dos fundadores da ABIQ, assim como presidente da entidade de 1992 a 1996, de 2004 a 2008 e, desde 2014, tem mandato vigente.  

A ABIQ dará continuidade à campanha “Queijo é Bom e Faz Bem, faça sua #HoradoQueijo”, iniciada em janeiro nas redes sociais. A ideia era encerrá-la agora em julho, mas ação nacional continuará divulgando, ao longo do ano, os benefícios nutricionais e a saudabilidade dos queijos produzidos pela indústria queijeira brasileira.  

“De 2020 para cá, com a pandemia, foram agregados mais de 4 milhões de novos lares consumindo queijo”, declarou Scarcelli. “Hoje, os queijos estão presentes, de alguma forma, em 94% dos lares brasileiros, segundo dados da Kantar do final de 2021.” A campanha explora também a diversidade queijeira de sabores e usos variados, além de trazer fatos novos, derrubar mitos e mostrar que o queijo é um alimento faz bem em qualquer dieta equilibrada. 

Fabio Scarcelli

Qual o principal desafio da indústria de queijo hoje, no Brasil? 

O setor de lácteos sempre foi muito desafiador e de difícil previsibilidade para todos os elos da cadeia. Nos últimos dois anos tivemos mais uma variável extremamente complexa, que foi a pandemia da Covid-19. 

Qual o balanço desses dois últimos anos de pandemia para o setor queijeiro? 

Diferentemente de um surpreendente ano bom em 2020, para o setor industrial queijeiro o ano de 2021 foi extremamente complexo. Foi impactado pela escassez e uma relevante alta no preço do leite, que na média subiu mais de 20% em relação ao ano anterior. Sofreu também fortes variações nos preços de insumos e transporte, pela diminuição da oferta e pelo aumento do dólar, fatores que no conjunto representaram uma aceleração nos custos.  

Então o consumo de queijo foi menor em 2021? 

O mercado, fragilizado pela queda na renda do consumidor, dificultou o repasse integral dos custos ou inibiu o crescimento do consumo. Longe do crescimento de anos anteriores, a produção nacional de queijos em 2021 sobre 2020, por nossas avaliações, cresceu em volume, tão somente ao redor de 1%. Já foi um ano de queda de rentabilidade, ainda que o setor de queijos tenha sido o melhor desempenho entre os produtos lácteos. 

A pandemia fez com que a indústria buscasse meios de se manter no período mais crítico. Qual o desafio daqui para frente? 

Novamente fica a difícil tarefa de se equacionar como obter margem, com pressão crescente de custos, a não ser pela inevitável e necessária elevação de preços dos produtos, mesmo com o bolso do consumidor mais restrito, com uma inflação em alta. O ano de 2022 já se apresentou com o preço da matéria-prima sinalizando que poderia ficar acima dos valores praticados em 2021, tendo como agravante a queda de 10% na produção primária o leite no primeiro trimestre, segundo apontado pelo IBGE. De toda forma, desafios sempre foram uma constante dentro do nosso negócio e, com certeza, fica a expectativa de que serão novamente superados pelo setor acostumado a mudança constante de cenário. 

Em 2023 a ABIQ completa 35 anos. Nessas três décadas e meia, quais mudanças culturais no consumo de queijo, no Brasil, você destacaria? 

Houve um aumento em todas as categorias e inclusive na dos “especiais”. Saímos de um consumo de 2,5 kg por habitante ao ano para 6 kg/ha ao ano. 

O queijo muçarela ainda é o mais consumido no Brasil. Acha que os consumidores brasileiros são mais conservadores quanto à escolha do queijo? 

A muçarela é o mais consumido devido a seu uso culinário e ao food service. Mas houve um grande aumento quanto aos tipos de queijos consumidos.  

[O food service é um dos segmentos da indústria gastronômica que mais evoluiu nos últimos anos. São empresas que preparam refeições ou outros produtos alimentares para consumo fora de casa, como food trucks, lanchonetes, bares, lanchonetes e restaurantes.] 

Quais as tendências para o mercado de queijos no Brasil? 

Será de trabalhar produtos já fracionados em porções individuais.  

A campanha “Queijo é Bom e Faz Bem, faça sua #HoradoQueijo” ficaria em evidência nas redes sociais até julho, mas se estendeu pelo segundo semestre, não?  

A campanha segue até o final de 2022. Estamos trabalhando para que o consumo continue a crescer mesmo a despeito das dificuldades econômicas desse ano extremamente complexo. Temos ainda muitas oportunidades de ampliar o consumo, especialmente levando em conta que, cada vez mais, estamos nos preocupando com uma alimentação nutritiva e saudável em novos estilos de vida 

Crédito: ABIQ

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