A integração entre bem-estar humano, animal e do meio ambiente envolve esforço colaborativo para garantir a qualidade na produção do leite
O que alimentos como leite, queijo, ovo, mel, carne e peixe têm em comum? A resposta não é difícil: são todos de origem animal, consumidos diariamente pela população. Nos supermercados, encontramos uma variedade deles, para os mais diversos gostos. Mas é essencial que esses alimentos cheguem à mesa do consumidor com qualidade e inocuidade.
Se por acaso você não sabe, inocuidade é a ausência de contaminantes biológicos, químicos ou físicos nos alimentos. Obviamente ninguém quer consumir nada que possa fazer mal à saúde ou causar alguma doença, não? Por isso mesmo, na hora de comprar um produto alimentício, a inocuidade é um dos aspectos que esperamos desse produto (ainda que muita gente nunca tenha sequer ouvido essa palavra).
Para garantir a inocuidade, os sistemas de produção de leite envolvem atividades complexas. Durante esses processos, pode haver transmissão de agentes causadores de doenças. Para reduzir essa possibilidade, as unidades de produção de leite utilizam práticas de biosseguridade. Dessa forma, mantêm a saúde única (animal e humana) livre desses danos. Essa segurança de poder consumir produtos com qualidade sanitária, sem riscos à saúde, é atestada pelo médico veterinário. O consumo do leite (assim como de carnes e ovos) é importante para a alimentação humana, mas depende de sistemas de produção com animais saudáveis, protegidos contra zoonoses.
“Além de zoonoses há muito conhecidas e combatidas, como a brucelose e a tuberculose bovinas, bactérias super resistentes a antibióticos também podem ser zoonoses, com sua origem nos sistemas de produção”, explicam Alessandro Sá Guimarães e Bruno Campos de Carvalho, pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, no Anuário do Leite 2021 da Embrapa. “Prevenir o uso indiscriminado de antibióticos e evitar resíduos de produtos químicos e contaminantes é de extrema importância, especialmente na cadeia produtiva do leite.”
Nos últimos anos, o termo saúde única tem ganhado visibilidade, mas não é exatamente uma novidade. A base do conceito começou a se formar lá no século XIX. Naquela época, o médico alemão Rudolf Virchow (1821-1902) já afirmava que entre os animais e a medicina humana não há divisórias. A origem do termo zoonose (doença transmissível aos seres humanos pelos animais) é, inclusive, atribuída a Virchow.
No século XX, o veterinário norte-americano Calvin W. Schwabe (1927-2006) reforçou a importância da união entre saúde humana, animal e ambiente. Ao longo de suas pesquisas e estudos, enfatizou a importância da colaboração entre veterinários e médicos na solução de problemas de saúde globais. Em seu livro “Veterinary Medicine and Human Health” (1984), Schwabe adotou a expressão “One Medicine” (medicina única), que depois evoluiu para “One Health” (saúde única).
Esse conceito engloba a ideia do equilíbrio entre o bem-estar do ser humano, do animal e do meio ambiente. Esses três elementos estão atrelados e interferem diretamente um no outro. Atualmente, a prática da saúde única tem sido mais promovida e impulsionada por causa do aumento de doenças infecciosas.
No leite, o processo começa no campo: nutrição, sanidade do rebanho, produtividade e preocupação com a sustentabilidade ambiental. Prevenir a entrada de doenças, adotar programas de imunização dos animais e reduzir o uso de antibióticos e outros medicamentos veterinários são algumas ações vitais para o equilíbrio da saúde única. A ideia é que ela faça parte, de fato, de toda a cadeia produtiva. De preferência, em um futuro bem próximo.