Entrevista: Aldemar Monteiro

Um sonho que muda a realidade da produção leiteira de Alagoas

À frente da CPLA, Aldemar Monteiro orgulha-se do esforço conjunto para trazer dignidade ao produtor de leite e melhorar a cadeia produtiva da região

O presidente da CPLA (Cooperativa de Produção Leiteira de Alagoas), Aldemar Monteiro, comemora a concretização de um sonho. Aliás, uma parte do sonho, pois ele ainda pretende ver muito mais. Em junho, foi inaugurada a primeira etapa da Unidade de Beneficiamento de Leite (UBL) de Batalha, em Alagoas. “Um grande passo para o cooperativismo em Alagoas”, orgulha-se Monteiro. “Um avanço muito grande para a agricultura familiar e uma transformação econômica na Bacia Leiteira do estado alagoano.”

Ele é incansável quando se trata de trabalhar para consolidar a participação da agricultura familiar na cadeia produtiva do leite de Alagoas e do Nordeste. “Quando a cooperativa se desenvolve, a cidade, a sociedade e a comunidade também se desenvolvem. Não é um desenvolvimento solitário, é todo um setor se desenvolvendo.” 

A UBL de Batalha tem capacidade para processar aproximadamente 400 mil litros de leite por dia. O empreendimento vai beneficiar cerca de dez mil agricultores, além de gerar postos diretos de trabalho na região. Segundo Monteiro, a estrutura da fábrica é capaz de fazer produtos de alta tecnologia e com tempo de prateleira maior.

Aldemar acredita que, mais que apenas um negócio, a cooperativa pressupõe a valorização das pessoas que a integram. “Equilibrar a produção em meio às oscilações de preço, para que não haja desperdício nem perda de leite. Para que todos saiam ganhando. Esse é o papel da cooperativa.”

Como surgiu sua paixão pela cadeia leiteira?

Tudo começou dez anos atrás. Um grande amigo, o saudoso Fernando Medeiros, foi meu diretor financeiro. Com ele fizemos uma grande viagem ao Canadá, que abriu nossos olhos. Essa missão, da qual participamos juntamente com o governo do estado [Alagoas] e o Sebrae, foi para conhecer o modelo de produção do Canadá. Lá, vimos que o cooperativismo era muito forte. Tinha uma regulamentação muito importante, que nos chamou a atenção: a questão da estabilidade financeira do produtor. E começou aí nosso sonho.

Quando começou sua trajetória na CPLA?

A CPLA nasceu em 2001, com 50 produtores. Em 2012 eu assumi a presidência. Conseguimos, junto com a diretoria e os amigos, ampliar muito o conceito de cooperativismo aqui no estado de Alagoas, atuando muito forte nos programas sociais, através do Programa do Leite, que foi muito importante para a CPLA e até hoje é. Conseguimos trazer mais de dois mil sócios para fazerem parte da cooperativa. Ela é formada, em sua maioria, por agricultores familiares, ex-funcionários de fazendas de grandes latifundiários. Alguns deixaram sua atividade e esses vaqueiros tornaram-se pequenos produtores aqui na região.

A UBL de Batalha fortalece a participação da agricultura familiar na cadeia produtiva do leite do seu estado. Como você vê esse momento do cooperativismo em Alagoas e no Brasil?

Nasci dentro de um pequeno laticínio, aqui em Alagoas. Um laticínio da minha família, que eles tocam desde 1984. Aliás, tocamos juntos. Uma fábrica que também é importante para nossa região. E justamente essas dificuldades, essa eterna briga entre laticínio e produtor, fizeram com que eu tivesse essa visão diferenciada do segmento. O cooperativismo era uma grande solução naquele momento para mim. Foi quando eu aceitei o convite, em 2012, e assumi a CPLA.

Em relação à qualidade do leite, na sua opinião, como estão os laticínios de Alagoas?

Alagoas tem uma grande vocação para a atividade leiteira, por essa base que foi deixada por esses grandes produtores, que trabalharam desde os anos 1960 e 1970 em genética. Então foi um grande nicho para a região da bacia leiteira aqui do Nordeste. E aí a CPLA começou a fazer viagens, para conhecer grandes cooperativas do Sul e Sudeste, e conseguimos ver vários modelos que nos ajudariam.

Como a cooperativa pode atuar para incentivar produtores melhores, mais capacitados e com uma matéria-prima de qualidade?

Estamos situados aqui no Nordeste e sabemos das dificuldades que os produtores passam. Nosso grande objetivo é a inclusão de pequenos produtores e o fortalecimento deles, com uma planta que traga tecnologia e equilíbrio social para esses produtores. Juntos, construímos uma planta altamente tecnológica, com a ajuda do governo do estado de Alagoas, do Sebrae e de grandes amigos, parlamentares, que ajudaram muito nesse processo de abertura da fábrica aqui.

Aldemar Monteiro entre Paulo Dantas (à esquerda), governador de Alagoas, e Renan Filho (à direita), ex-governador do estado

Esse equilíbrio social dos produtores deve impulsionar a produção dessa região, não?

Acredito muito que esse potencial de produção leiteira aqui de Alagoas pode crescer muito com essa questão do equilíbrio. Porque muitas vezes, em determinadas épocas do ano, o produtor joga fora o leite por não ter onde escoá-lo. As indústrias não têm como escoar essa produção aqui, em alguns períodos do ano. Por isso queremos dar mais tranquilidade aos produtores, para que eles possam, cada vez mais, aumentar sua produção.

O que você destacaria de novidade na cooperativa?

Estamos com um projeto de filtros, para que possamos trabalhar melhor o soro, para que chegue com refinamento muito melhor e atenda outros segmentos. A cooperativa também está se preparando para colocar leite pasteurizado, iogurtes e manteiga na praça. Já estamos em fase de conclusão da linha de leite em pó e leite condensado, de uma queijaria para muçarela, totalmente automatizada, e para o reaproveitamento do soro, para fazer o soro desmineralizado.

Mais que apenas um negócio, a cooperativa pressupõe a valorização das pessoas que a integram. Como você avalia sua trajetória na CPLA?

É uma longa história, com mais de dez anos, que estamos construindo juntos, com vários parceiros e amigos. Queremos fazer uma grande cooperativa, que dê realmente equilíbrio a essa comunidade que tanto precisa. Aqui em Alagoas temos mais de 39 mil pequenos produtores que se declaram produtores de leite. É um caminho longo, e estamos muito empenhados em fazer uma gestão muito boa, para que realmente todos participem desse projeto, trazendo um equilíbrio social importante.

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